quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

[ be yourself ]

Kendall & Gigi 
Que a beleza de uma mulher não tem qualquer influência na beleza de outra mulher é uma certeza bem sólida no meu coração. 

Ainda que reconheça a elegância das proporções de uma Naomi Campbell e a admire, tenho a certeza de que isso não afecta a forma como me vejo, me julgo e me sinto em relação ao meu corpo. 

Por exemplo, sou fã do cabelo da Blake Lively e no entanto, sei que aquele louro não funciona no meu tom de pele e seria incapaz de o copiar. Adoro os caracóis da minha irmã e não tenciono assumir a minha ondulação natural nem fazer uma permanente. Sou fã do sentido estético dela e não o quero replicar. Admiro traços de personalidade nos outros que, no máximo, me inspiram a melhorar o que sou.

Quem se conhece, se aceita e se ama, não quer vestir a pele de outro. Quem tem personalidade não copia, ainda que se inspire. Quem é seguro de si quer apenas ser quem é.

Ser o outro é um lugar que já foi ocupado - guess what? - pelo outro! Este papel que me foi atribuído, de ser eu, tem de ser desempenhado por mim. Não há tempo para perder, não há ensaios, a peça está a decorrer agora. Eu, com esta personalidade, estes gostos, esta inteligência, esta sensibilidade, esta emotividade, este ser. Eu, com este corpo, esta estrutura óssea longe de ser esguia, este pescoço alto, esta cabeleira farta, estes olhos papudos, este sorriso enorme. Eu, que independentemente de tudo o que não sou nem tenho, sou eu.

É do auto-conhecimento que vem a auto-estima. Quando sabemos que pessoa somos, defeitos e virtudes, passamos a gostar mais do todo complexo e denso que nos forma a identidade. E quando nos amamos - mãos, pés, boca, alma - apreciamos cada especificidade, cada particularidade que nos distingue dos outros. Quando isso acontece, não queremos ser outra coisa que não seja o nosso eu. É para connosco a nossa lealdade maior.

Talvez por tudo isto me cause repulsa a falta de personalidade, que se mostra em pormenores, que é nos detalhes que se vislumbram grandes revelações. Às vezes irrita-me, outras entristece-me. Sempre que alguém tenta ser o que não é, a base é a mesma: falta de amor por si.

E se a imitação poderia causar-me alguma vaidade, a verdade é que tem o efeito oposto. Incomoda-me, retrai-me, afasta-me. A condescendência afecta a forma como olho para quem insiste em tentar assemelhar-se a mim e isso influencia a minha postura - dou-me menos.

Todas nós passámos por isso: todas tivemos aquela amiga que nos admira e que começa a reproduzir o que somos, vestimos ou fazemos, de forma velada. Aquela a quem contámos querer um determinado blazer azul e que no dia seguinte aparece com o tal vestido, fingindo não ter ouvido o que lhe fora dito. Aquela que passa a amar ananases depois de descobrir que até temos uma tatuagem com um ananás. Aquela que copia as nossas ideias e as executa de forma incompleta ou incorrecta antes de as colocarmos em prática, só para poder ser a primeira. 
Todas sabemos que se essa mesma amiga dissesse apenas que adora o nosso casaco novo e que gostaria de ter um igual, o problema não existiria. A questão é que quando há uma certa inveja - e não me venham com a treta da inveja branca; inveja é inveja e não consta no meu vocabulário - esse género de coisinhas mesquinhas mina a relação e espelha o que se passa lá dentro, na relação que essa pessoa tem consigo mesma. Por norma, reduzem-se, inferiorizam-se e são poços de insegurança.

Na minha concepção de amizade, não há lugar para competições vãs nem invejas. Onde isso existe, não há amizade, há outra coisa qualquer. Em tudo na vida, a comparação não é um bom mote, exactamente porque cada um é um só: na origem, no contexto, no percurso, nas experiências, na maneira de ser, na perspectiva, no tipo de raciocínio que lhe é natural, nos gostos.  

Então acredito que cuidar de nós é prioritário. Tornar-me na minha melhor versão impede que comparações estúpidas afectem o modo como me sinto em relação ao que sou. 
E há tanto para fazer, tanto investimento por onde começar! Sugestões? 

Terapia para melhorar a auto-estima, que proporcione melhor conhecimento acerca do todo que somos e nos faça andar em frente no caminho da aceitação, resolvendo questões antigas e destruindo mitos que sejam obstáculo para que nos amemos e possamos evoluir.

Criação de novas rotinas espirituais e de contacto com a Natureza, momentos só nossos que nos façam sentir de energias renovadas e que tornem mais nítida a visão, para que possamos ver tudo o que de bom somos e temos ao nosso redor e sentir genuína gratidão por isso. Há quem precise de se descalçar na areia, quem anote diariamente os pontos fortes do seu dia, quem faça yoga, quem medite ao som de mantras... 

Cuidar do corpo para uma imediata sensação de bem-estar e de crescente satisfação com o nosso invólucro e pelo nosso futuro eu. É preciso mexermo-nos e entre dançar, correr ou nadar, alguma coisa há-de ser agradável. Apostar numa alimentação equilibrada e nutritiva é essencial para que nos sintamos tão leves como despertos. Ser atento aos cuidados com a pele é indispensável e não são precisos mais do que alguns minutos por dia para implementar rituais que a melhorem. Não é vaidade, é saúde.

Devemos mimar-nos. Seguindo a linha de pensamento do ponto anterior, uma máscara facial por semana fará maravilhas. Uma ida ao cabeleireiro, um passeio numa cidade diferente, uma mudança de visual através de uma mera extensão de pestanas, um workshop que nos entusiasme, uma massagem relaxante, uma fatia daquele bolo delicioso, um livro que nos prenda, uma ida a um concerto ou a um teatro, um hobby novo ou aqueles sapatos excêntricos - não interessa o que é, importa apenas que nos faça sentir mimadas. Falo de pequenos luxos que são também uma forma de nos incutir a sensação de que somos importantes para nós.

Definir um estilo e vivê-lo diariamente. Claro que um Consultor de Imagem o descobre em três tempos e fornece todas as directrizes necessárias para que o que usamos reflicta a pessoa que somos, mas na impossibilidade de recorrer aos serviços de um profissional, devemos comprometer-nos a escolher apenas o que nos faz sentir muito bem - mais ou menos nunca é suficiente. É suposto que a roupa nos incremente a confiança, melhore a nossa aparência e nos divirta, em vez de nos apagar ou de trazer desconforto.

Não ser simplesmente anti. Cultivar o amor. Ser anti-qualquer-coisa só porque sim não chega. Descobrir o que nos faz vibrar é parte do objectivo da nossa estadia no mundo. Encontrar paixões, saber o que nos move é o que nos faz sentir vivos. 

Ninguém nunca marcou a diferença no mundo por ser igual aos outros.

[ be yourself. and enjoy it ]

Sem comentários: