terça-feira, 22 de outubro de 2013

dias cinzentos

Adele
Sinto que devo ser grata pelo privilégio de estar viva. Se não por mim, pelos que me rodeiam. Por poder, como disse António Gedeão (ou Rómulo de Carvalho) numa entrevista que guardei, ainda garota, numa das gavetas da minha escrivaninha e que gosto de reler, apesar do tom amarelado do papel amachucado em que está gravada, «ser útil aos outros». E sou-lhes útil como posso e como sei, como consigo e como a minha vida me vai permitindo. Tento contagiá-los com o meu sorriso metálico, animá-los com a minha força, ajudá-los nas mais pequenas coisas. Estou presente, mesmo que a presença se faça notar por telemóvel. Tento estar, ainda que não tanto como gostaria. Mas vou fazendo o possível. E depois há dias como ontem, em que o prenúncio de mau tempo me contagia por dentro e me torna na pessoa mais séria do planeta. Em que a luz que tenho em mim esmorece, em que a alma fica baça e o riso não há. São dias em que não deveria ter saído da cama, sabem? Dias em que penso demasiado, em que me preocupo demasiado e que termino com a culpa de não estar empenhada a cem por cento em viver com a energia que todos os dias me merecem. Em que nem me importo de comer peixe cozido sem sabor, porque o paladar não interessa. Cumpro todas as obrigações, atravesso as horas sem paixão e tenho pena de me permitir ser absorvida pela falta de alegria das nuvens cinzentas.

2 comentários:

Fiona disse...

oh minha querida menina lamparina... não te deixes absorver pelas nuvens cinzentas...

Anónimo disse...

Lamparina, já somos 2, eu ODEIO este tempo, esta chuva, este vento, a ausência de sol, deixa me triste... não consigo perceber quem diz que gosta mais do inverno :(... volta verão