sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

tempo

Olivia Palermo
Foi numa fracção de segundo que o tempo parou. Como se o espírito se desprendesse por um breve instante do seu corpo e observasse do alto toda a sua existência. Os olhos do corpo contemplavam os pontos de luz que inundavam o céu. Os olhos da alma fitavam a pequenez da jornada a que chamamos vida. 
Não foi há muito tempo que se sentiu segura. Não foi há muitos anos que se sabia protegida. Nem dava pelo passar dos dias: alimentavam-na, transportavam-na, cuidavam dela. No momento seguinte, já tomava banho sozinha, lia livros e conversava. Cresceram as maminhas, já usava soutien, foi ao cinema com a melhor amiga, bebeu ginjinha a mais, deu o primeiro beijo, amou, namorou. De repente, dá por ela no tempo presente e grita que não quer que os quarenta anos cheguem já amanhã. Ainda ontem a avó era uma mulher capaz, que se multiplicava entre a pintura, a escultura e a decoração. Amanhã vai conhecer o sítio que nunca será a sua casa. Vai para um lar. 
Sonha acordada para forçar um sonho durante a noite. Porque nos sonhos somos donos do tempo.

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