sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Eu quero é dar-vos música(s).

Cesária Évora
Contei-vos do meu ídolo da adolescência e das vozes que me lembram do futuro maravilhoso que me aguarda.
Hoje recordo aquela que me serve de inspiração para um livro que ainda não escrevi, que me dava o colo para que deitasse a minha cabeça, que me pedia para cantar para ela. A minha avó era minha bisavó e é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Já vos devo ter contado das saudades maiores que o meu corpo, da falta que me faz e de como lamento que não possamos partilhar, cara a cara, mão na mão, os momentos marcantes que vou atravessando. É a ausência do olhar que dói na morte. E do toque. E da voz. A minha avó era bonita e eu ainda a vejo com olhos de miúda. A pele dela era perfeita, da cor do chocolate de leite da Milka. E vestia-se com os panos tradicionais da terra que não conheço mas que trago algures dentro de mim, culpa das histórias que ouvi contar de um país que já não existe como ela o viu. Sabem, não é só nos momentos felizes que bate esta sodad. É também naqueles em que me falta o colo dela. E esta música da Cesária comove-me. A lágrima no olho acompanhada de um sorriso tímido enquanto me abraço a mim mesma, embalada no suave balanço com que o corpo responde aos sons. "Viver não custa, o que custa é saber viver". A vó dizia-me isto tantas vezes e eu não percebia. Era pequena, marimbava. Hoje já percebo. Hoje já sinto. Sei o que ela me estava a dizer. E queria que ela estivesse cá para me ensinar a viver aquilo com que não sei lidar. E é porque a sodad bateu mais forte nos últimos dias que partilho convosco este bocadinho de mim. Convosco, a diva dos pés descalços.